Cuidados com a saúde mental na atenção primária podem trazer sustentabilidade ao sistema

Com orientação correta, os profissionais da atenção primária podem (e devem) olhar para os cuidados com a saúde mental de todos os paciente


em 2019, quase 1 bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental, que a pandemia aumentou em mais de 25% a incidência de depressão e ansiedade na população e que apenas 12% das pessoas com essas condições recebem cuidados com a saúde mental em países de baixa renda. Esses são apenas alguns dos dados que comprovam a relevância do tema e a necessidade de atuar na questão desde a atenção primária.

Joana Moscoso, psiquiatra de projetos e novos serviços no Hospital Israelita Albert Einstein, traz um pouco desse cenário para a realidade brasileira: “Um estudo populacional, feito em 2010 e contemplando cerca de 20 UBS e mais de 4.500 pacientes em quatro capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre, mostrou que 20% das pessoas na sala de espera do atendimento tinham demanda de sofrimento psíquico e 40% apresentavam depressão ou transtorno ansioso. É uma prevalência muito alta”.

Segundo ela, a maior prevalência de transtornos mentais são aqueles considerados leves, que incluem ansiedade, depressão leve e moderada, transtornos alimentares e somatizações. Casos que, com o direcionamento certo, podem ser identificados e tratados no atendimento primário. “E não estamos falando apenas de medicar esses pacientes. Mas de oferecer um cuidado integral”, ressalta.

É preciso levar em consideração, porém, segundo ela, que não há um número suficiente de especialistas — pensando em profissionais como psiquiatras e psicólogos — para atender toda a população que tem algum nível de transtorno mental. E, ainda que fosse possível distribuir os pacientes em consultas esporádicas com esses profissionais, isso não resolveria o problema.

“Imaginar que só o especialista vai cuidar de saúde mental é pensar que só o cardiologista cuida de hipertensão. Se esperar por um especialista, o paciente vai ser visto a cada três meses por um profissional que não o conhece. Em um posto de saúde, ele tem à disposição, todo mês, uma equipe de médicos, enfermeiros e agentes comunitários que conhecem a realidade dele. A construção de um vínculo é muito importante no tratamento de saúde mental”, afirma.

Deixe seu comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem